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(Texto compartilhado no dia 27 de outubro de 2025 por Susana Machado Félix)
Em 1906, o missionário Frederick Glass passou pela Vila São Sebastião do Allemão, conhecida hoje como Palmeiras de Goiás, e ficou na residência do meu bisavô materno, Caetano José Machado, que era coletor de impostos e já havia se convertido. Segundo anotações de antigos historiadores da cidade, "as reuniões eram tumultuadas por pedras lançadas no telhado; formavam-se procissões para perturbar o local do culto". Uma dessas procissões foi "sustentada com paus" pelo Caetano José, bisavô de Susana Machado Félix.
Surpreendentemente, Caetano José foi o primeiro a se tornar membro da maçonaria em Palmeira de Goiás, em março de 1892, junto com um sobrinho da Prudenciana Justina Machado. Ela se converteu aos 13 anos, ouvindo os cultos da Igreja Cristã Evangélica que eram realizados nas casas vizinhas. Foi nesse período que fez um pacto com Deus, prometendo servir com lealdade para abençoar sua família até a quarta geração. Ela abandonou o sobrenome Goulart, que era herdado de seu pai, por não querer retornar às suas raízes católicas, como desejava seu pai.
Palmeiras de Goiás era uma cidade marcada por intensas diferenças religiosas. A divisão era evidente, até mesmo os cemitérios dos protestantes e católicos eram separados. A história do Caetano José está registrada em um livro cuja primeira edição se perdeu no lançamento, restando apenas o rascunho que uma familiar repassou.
Caetano José Machado nasceu em Água Branca, Alagoas, em 1870, filho de Antônio Ignácio Machado e Antônia Maria Machado. Até o presente estudo genealógico, a família não sabe informar se o bisavô de Susana tinha irmãos, pois durante entrevistas a parentes, os tios avós nunca comentaram sobre isso.
Ele se casou por procuração por volta de 1890 e já estava em Goiás. Eles tiveram 16 filhos. Caetano faleceu 45 dias depois da bisavó de Susana, em 23 de outubro de 1955, em Goiânia.
Água Branca/AL
Até o meio do século XVIII, a área conhecida como Água Branca estava sob a jurisdição da sesmaria de Paulo Afonso, situada na Província de Alagoas, que na época era chamada de Mata Grande. Este território era pertencente a Paulo Viveiros Afonso, um sertanista que recebeu, por meio de um Alvará Real datado de 03 de outubro de 1725, uma vasta extensão de terrenos que hoje compõem os municípios de Mata Grande, Piranhas, Delmiro Gouveia, Olho D’água do Casado, Pariconha, Inhapi e Canapi.
A fundação do local deve-se a três irmãos portugueses da família Vieira Sandes: Faustino, José e João, que eram originários do Arquipélago dos Açores, em Portugal. Eles deixaram a localidade de Vale de Itiúba, situada às margens do rio São Francisco e atualmente parte do Município de Porto Real do Colégio (AL), além de Boacica, que hoje é parte do Município de Igreja Nova (AL), e se dirigiram para o sertão alagoano com a intenção de desenvolver a área por meio de fazendas, criação de gado e a construção de vilas. Ao chegarem à sesmaria de Paulo Afonso, fundaram uma nova povoação. Para distingui-la de Mata Grande, a nova localidade recebeu o nome de Mata Pequena, Matinha de Água Branca ou Mata de Água Branca.
O nome Água Branca
surgiu por causa de várias fontes naturais com água clara e límpida que existem
na região. O primeiro desbravador da cidade de Água Branca foi Faustino Vieira
Sandes, capitão da Guarda Nacional Imperial. Este imigrante português nasceu em
1680 e faleceu em 1760, aos 80 anos. Teve três crianças: João Vieira Sandes
(nome que também pertenceu a um irmão), Faustino Vieira Sandes (compartilhando
o mesmo nome que o pai) e José Vieira Sandes (nome herdado de um irmão).
Naquela época, era comum entre as famílias a repetição de nomes como forma de
preservar a linhagem e a ascendência nas gerações futuras. Além das boas
pastagens que a região da caatinga proporcionava, a riqueza das áreas
montanhosas atraiu muitos investidores, e as propriedades na sesmaria foram
vendidas em um leilão em 1769 na cidade de Recife (PE), adquirido pelo capitão
Faustino Vieira Sandes (filho), que já ocupava a terra por meio de
arrendamento. Com o passar dos anos, o comércio local se expandiu,
desenvolvendo-se com a criação de gado, a produção de açúcar, algodão e com
grandes feiras que comercializavam gado, peles e iguarias, estimulando a
economia e o progresso da área. Esses atrativos conseguiram levar outros
fazendeiros de diversos estados brasileiros a visitar e, em alguns casos, se
estabelecer na localidade.
No início da colonização, a família Vieira Sandes se estabeleceu nas planícies da caatinga no sertão visando à criação de gado, desbravando propriedades como Matinha, Boqueirão, Cobra, São Bento, Paraíso e Pedra. Gradualmente, eles se expandiram para as áreas mais altas da região, erguendo a Vila de Água Branca no centro dos vales montanhosos que cercam a Serra da Charneca, a Serra do Mulungu Central, a Serra da Tatajuba, a Serra dos Gonçalves, a Serra do Canto, a Serra do Paraíso, a Serra do Mulungu e a Serra do Paraíso no lado oposto. A cidade de Água Branca e suas características geográficas são definidas por quatro vales distintos.
Em
1770, o Major Francisco Casado de Melo construiu a primeira igreja situada em
uma área central entre três núcleos populacionais: Várzea do Pico, Olaria e
Boqueirão. A Igreja de Nossa Senhora do Rosário foi o principal local de culto
na região até o surgimento da Igreja Matriz Nossa Senhora da Conceição. No
início do século XIX, as famílias Teodósio, Vieira, Viana e Félix iniciaram a
ocupação de Pariconha, dedicando-se à agricultura, criação de gado e
principalmente à criação de pequenos animais. Segundo a tradição local, um
ouricurizeiro que produzia frutos com duas conhas, como eram chamadas as
polpas, inspirou o nome da cidade, que inicialmente era ‘Par-de-Conha’ e
posteriormente foi abreviado para Pariconha. Instalados em uma área chamada
“Povoado Caraibeiras dos Teodósios”, às margens do Rio Moxotó, a família
Teodósios ainda tem seus descendentes por lá. O restante das famílias pioneiras
na colonização da área se estabeleceu onde atualmente está localizado o centro
do município. Anos após a chegada desses primeiros colonizadores, um grupo da
tribo indígena Jaripancós, oriundos do Município de Tacaratú (PE),
especificamente de uma região conhecida como “Brejo dos Padres”, formou uma
aldeia na Serra do Ouricuri, nas proximidades da nova povoação.
A história documenta a significativa visita do Imperador Dom Pedro II, que esteve acompanhado de uma delegação e da Imperatriz Thereza Cristina, à Cachoeira de Paulo Afonso, ocorrida em 20 de outubro de 1859. Este evento é lembrado por meio de um marco em bronze que foi colocado nas proximidades da Usina Angiquinho. No seu Diário de Viagem, Dom Pedro II menciona que percorreu as áreas do Baixo do São Francisco, destacando Água Branca. O Major Calaça, que era natural de Penedo, se mudou para Água Branca para se dedicar ao comércio e à pecuária. Com um extenso conhecimento da área, o Major Calaça atuou como guia para o imperador. As informações que o Major compartilhou sobre a vegetação e a vida animal da região impressionaram bastante Dom Pedro. No seu Diário, Dom Pedro II escreveu:
"Já me preparava, tendo acordado antes das 04:00h, e às
04 horas e 37 minutos partimos dos Olhos d’Água em direção ao Talhado, uma
fazenda que cultiva alimentos e cria gado, chamada por aqui, Major Calaça, que
parece ter grande interesse por agricultura, possuindo em Água Branca, a 06
léguas do Talhado, um sítio repleto de várias frutas, entre elas uma banana que
eu não conhecia, chamada dente-de-porco. As atas, ou pinhas, não estão
frutificando neste momento, assim como ocorre com o umbuzeiro do qual o Calaça
me mostrou um exemplar durante o trajeto e que é abundante por aqui,
especialmente na mata de Água Branca. As atas, ou pinhas, não apresentam fruto
agora, da mesma forma que o umbuzeiro, cuja planta o Calaça me mostrou no
percurso e que é uma espécie comum nessa região, em especial na Mata de Água
Branca."
Texto de Patrício Holanda
Referências bibliográficas:
A história de Água Branca. Disponível em: >(https://www.aguabranca.al.gov.br/a-historia/)<. Acesso em 27 de outubro de 2025.
Caetano José Machado. Disponível em: >(https://www.familysearch.org/pt/tree/person/details/GXP7-BQ8)<. Acesso em 27 de outubro de 2025.
Frederick Charles Glass. Disponível em: >(Frederick Charles Glass (GuardaChuva Educação))<. Acesso em 29 de outubro de 2025.
Prudenciana Justina de Jesus. Disponível em: >(https://www.familysearch.org/pt/tree/person/details/GXPQ-LKQ)<. Acesso em 27 de outubro de 2025.



