A parte superior do Nordeste brasileiro, começou efetivamente no século XVII. Tentativas de ocupação da área antes da chegada dos holandeses em 1620 se limitaram apenas ao litoral e não passaram de ações de natureza estratégica ou militar. A colonização do interior de fato teve pouca relação com essas ocupações ao longo do litoral, ela foi principalmente o resultado de incursões sertão adentro, de criações de gados oriundos da Bahia e Pernambuco. Os criadores de gado, ávidos por mais terra para fazendas visando o suprimento dos mercados da região açucareira no litoral, chegaram ao Ceará nas últimas décadas do século XVII.
Acompanhados por seus vaqueiros e escravos, estabeleceram-se inicialmente ao longo das margens do Rio Jaguaribe, de Aracati para o sul, até a sua confluência com o Rio Salgado, onde fundaram a cidade de Icó. Partindo das terras do Icó subiram o rio e seus afluentes, chegando aos Inhamuns por volta do ano de 1707.
Os Inhamuns localizam-se nas cabeceiras do Jaguaribe.
As sesmarias, áreas de terras doadas segundo a coroa portuguesa, fornecem um quadro parcial da colonização da área. A sesmaria fora utilizada em Portugal desde o século XIV como meio de doar terras abandonadas ou não-cultivadas a pessoas que pudessem fazer uso delas. Tal fato serviu como precedente para a aplicação de prática semelhante na Colônia Portuguesa na América, onde terras sobravam. As sesmarias (eram distribuídas pelo chefe militar e oficial administra dor da capitania - o governador ou capitão-mor, de acordo com o caso. A dimensão da propriedade era geralmente de uma légua de largura por três léguas de comprimento, embora muito mais do que isso às vezes fosse doado em uma sesmaria. De maior importância era o fato de que não havia limite fixado para o número de sesmarias que uma só pessoa pudesse receber.
A primeira sesmaria nos Inhamuns foi doada em 1707 e a última em 1821, dois anos antes desse sistema de doação de terras deixar de ser usado. A primeira sesmaria, em 26 de janeiro de 1707, foi doada a Lourenço Alves Feitosa, seu irmão Francisco e. quatro outras pessoas, cada uma recebendo três léguas ao longo do rio Jucá. Segundo era comum, a solicitação chamava a atenção para o fato de que as terras eram virgens e, como tal, não estavam produzindo rendas para os cofres da Corte. Embora a maioria dos pedidos de terras obedecessem a uma forma um tanto padronizada, às vezes incluíam informações complementares para o reforço das solicitações. Um dos pedidos feitos em 1707, por exemplo, esclarecia que os solicitantes eram residentes do Jaguaribe, que estavam preparados para se defenderem dos índios, que haviam arriscado suas vidas e bens para descobrir estas terras jamais vistas pelos brancos, e que não possuíam terras com pastagens para o gado.
De 1707 a 1744, inúmeras sesmarias foram doadas na área dos Inhamuns. Após aquela data, poucas foram doadas, e a maior parte delas distribuídas a pessoas que já tinham posse na área. Na metade do século XVIII a estrutura básica daquela sociedade tinha sido estabelecida sociedade essa organizada para dar apoio à indústria de ração de gado e ao poderio dos Feitosas, família dominante da área.
Os Feitosas dos Inhamuns, segundo a tradição, descendem de João Alves Feitosa, um português que, nos primórdios do seculo XVII, estabeleceu-se como sesmeiro perto de Penedo, na foz do rio São Francisco, hoje em dia Alagoas. Em 1707, dois de seus filhos, Lourenço e Francisco, juntamente com quatro companheiros conseguiram as primeiras doações de terras nos Inhamuns. Nos anos seguintes as propriedades dos Feitosas expandiram- se rapidamente, somente Lourenço recebeu um total de vinte. ou mais sesmarias espalhadas ao longo do rio Jaguaribe e seus afluentes próximas a Icó, bem no coração dos Inhamuns. Foi dessa maneira que a base inicial do poderio da família naquela área parece ter tido início. Nos Inhamuns, foi Francisco e não Lourenço que, na realidade, fundou a família, pois tanto Lourenco como seu único filho, segundo se crê, não deixaram descendência, legando suas posses e influência a Francisco. Este morou nos Inhamuns mais de sessenta anos tendo contraído núpcias três vezes, duas com viúvas, das quais nasceram quatro filhas e dois filhos. Dessas uniões ganhou pelo menos cinco descendentes, oriundos de suas esposas com os seus primeiros maridos. Os Feitosas dos Inhamuns descendem de Francisco, suas três esposas, seus filhos e enteados, filhos dessas esposas e de seus cônjuges.
Um estudo da genealogia da família leva à conclusão de que, por motivo de conveniência, preferência, falta de contatos ou por outras razões, muitos dos descendentes de Francisco e de suas esposas escolheram pessoas dentro da parentela ou do seu grupo familiar para se unirem, sendo o grupo familiar definido como os descendentes de Francisco e suas esposas. Esse fato torna-se particularmente claro com a terceira geração nascida nos Inhamuns, sendo os filhos de Francisco e suas esposas considerados os formadores da primeira geração. De trinta e duas pessoas que casaram naquela geração, oito escolheram o cônjuge fora do grupo familiar, enquanto que os demais casaram dentro do grupo familiar. Desde o começo, os casamentos não somente aconteceram entre primos em primeiro grau, como também entre pessoas mais intimamente ligadas, como tios e sobrinhos.
Embora a maioria dos membros da família mais numerosa dos Inhamuns tivesse escolhido cônjuges do próprio grupo familiar, um número significante de pessoas casou com forasteiros. Estes casamentos trouxeram, além de sangue novo, valiosas alianças com outras famílias, tais como os Araújos. Os Araújos no Ceará descendem de dois irmãos e uma irmã, um deles sendo o capitão-mor, José de Araújo Chaves.
Em suas terras da Vila Nova D'el-Rey, situada a duzentos quilômetros ao norte dos Inhamuns, eles eram tão poderosos quanto os Feitosas nos Inhamuns, senão mais. Os Araújos estenderam sua influência nos Inhamuns durante os primeiros anos de colonização, recebendo sesmarias em 1717 e 1720. A união dessas famílias começou com a segunda geração dos Feitosas nascida nos Inhamuns; duas netas de Francisco casaram, respectivamente, com um filho e um sobrinho do Capitão-mor Chaves. Tomando como base essas alianças, a união aprofundou-se nas gerações subsequentes, como resultado dos casamentos realizados entre os Feitosas daquela área e os Araújos de Vila Nova D'el-Rey.
Referências bibliográficas:
MELO, Cristiane e C.F & CRUZ, M. L. B da. O processo migratório no Ceará: evidências a partir da microrregião do Sertão dos Inhamuns. Geosul, Florianópolis, v. 31, n. 61, p 201-226, jan./jun. 2016. Disponível em: >(administrador,+08+-+Cristiane+-+O+processo+migratório+no+Ceará.pdf)<. Acesso em 02 de setembro de 2023.
Família Feitosa: origem. Disponível em: >(Estórias&História: FAMÍLIA FEITOSA: ORIGEM (estoriasehistoria-heitor.blogspot.com))<. Acesso em 19 de novembro de 2023.
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