A história da família Mourão de Ipueiras, localizada no Ceará, tem suas raízes fincadas nos séculos XVIII e XIX, apresentando muitos fatos ocorridos naquela época. Abaixo, listei algumas curiosidades sobre alguns eventos históricos que marcaram essa influente família durante esse período.
A expressão "coisa de Mourão" foi inventada pelo ex-governante da região do Ceará, José Martiniano de Alencar, para descrever as atitudes violentas da família Mourão na região e a dificuldade de levá-los a julgamento, devido ao medo das autoridades locais e à influência política deles. Nertan Macêdo, em seu livro "O Bacamarte dos Mourões", argumenta que o poder e o prestígio dessa família surgiram a partir das conexões matrimoniais que os ligaram à casa do então Capitão-mor de milícia da Ibiapaba, Antônio de Barros Galvão. No final do século XVIII, os pernambucanos Alexandre da Silva Mourão (o pai) e seu irmão Sebastião Ribeiro Melo, casaram-se com duas irmãs filhas do mencionado Capitão-mor, das quais receberam terras em Crateús, na Serra da Ibiapaba e no Piauí. Essas terras e a influência herdada do Capitão-mor de Vila Nova foram fundamentais para o poder e prestígio da família Mourão (MACÊDO, 1966, p. 13-15).
Os Mourões destacavam-se não só por sua força militar, mas também por sua influência política na região de Acaraú. Desafiavam os adversários locais que atuavam em nome do Estado recém-criado. Assim como o Estado brasileiro em formação no século XIX, o Estado colonial português também se consolidava no interior, com o fortalecimento de certas famílias que passavam a representar o governo local. Os Mourões, por sua oposição aos líderes nomeados pelo governo na província do Ceará, foram considerados inimigos do Estado imperial.
Assim, José Martiniano de Alencar, tentou fazer um acordo com os Mourões, a estes foi prometido suspensão de processos e cargos militares em troca de apoio político. Frente a recusa do velho Alexandre da Silva Mourão I, se deu início as perseguições.
A Família Mourão tem raízes profundas na região nordeste do Brasil, com seus membros estando entre os primeiros a se estabelecer no estado do Pernambuco com o nascimento do Alexandre da Silva Mourão I, nascido aproximadamente no ano de 1700 e filho do português Leonardo da Silva Mourão, que nasceu aproximadamente em 1660 em Açores, Portugal e da Adriana da Silva, nascida aproximadamente em 1680 em Açores, Portugal. A família foi parte do movimento de colonização que expandiu o território para além das áreas costeiras.
Durante o século XIX, casamentos estratégicos com outras famílias influentes da região, como a família Monteiro do Icó/CE, família Bezerra de Ipaporanga/CE, ajudaram a fortalecer o poder econômico e social dos Mourão. Esses casamentos frequentemente envolviam alianças com famílias locais de destaque, como os Melo de Ipu/CE e os Franco da Silva de Crateús/CE.
Quase todos os casamentos foram significativos, entre eles o do Capitão Alexandre da Silva Mourão com Anna Gonçalves, Sebastião Ribeiro Mello com Cosma Maria Mello, Alexandre da Silva Mourão II com Úrsula Gonçalves Vieira. Estes casamentos ajudaram a fortalecer ainda mais o clã Mourão, consolidando o poder social e econômico em Ipueiras e nas localidades vizinhas.
A família Mourão acumulou grandes extensões de terras ao longo do tempo, o que contribuiu para sua influência econômica na região. Essas propriedades eram frequentemente usadas para a agricultura, especialmente para o cultivo de cana-de-açúcar e algodão, que eram produtos importantes na economia local.
Membros da família Mourão estiveram envolvidos na política local e regional. Eles desempenharam papéis significativos em diversas esferas administrativas e políticas, influenciando as decisões que moldaram o desenvolvimento da região de Ipueiras e arredores.
Além de sua relevância econômica e política, a família Mourão também teve um papel significativo no avanço social e cultural da região. Isso abrangeu o financiamento de projetos educacionais e religiosos, além de oferecer apoio a eventos culturais e comunitários.
Hoje, o legado da Família Mourão permanece evidente em Ipueiras. A narrativa da família é frequentemente relembrada nas tradições locais e permanece viva na memória coletiva da comunidade. A influência duradoura da família na região serve como prova de seu impacto ao longo do século XIX.
A trajetória da Família Mourão pode ser explorada através de uma variedade de arquivos históricos, que incluem registros civis, documentos de propriedade e anotações eclesiásticas. Essas fontes oferecem uma visão abrangente da vida e das atividades da família ao longo do tempo.
Assim como muitas famílias de destaque, os Mourão enfrentaram diversos desafios ao longo dos anos, incluindo transformações econômicas, políticas e sociais. Essas transformações ajudaram a moldar o caráter e o papel da família na sociedade de Ipueiras.
Essas curiosidades oferecem uma visão sobre como a família Mourão desempenhou um papel significativo na história e desenvolvimento de Ipueiras e da região do Ceará durante os séculos XVIII e XIX.
Texto de Eugênio Pacelly Alves
Referências bibliográficas:
MACÊDO, Nertan. O Bacamarte dos Mourões. Fortaleza: Editora Instituto do Ceará, 1966.
ARAÚJO, Reginaldo Alves de. Coisa de Mourão”: uma parentela do sertão cearense no processo de afirmação do Estado brasileiro (1835-1856). Fortaleza: UFCE, Grupo de Pesquisa Sociedade e Cultura no Brasil Oitocentista - SEBO, (17 f.), 2016.
Algumas origens do Ceará. Disponível em: >(fwa.org.br/livros/algumas-origens-do-ceara.pdf)<. Acesso em 23 de agosto de 2024.
Alexandre da Silva Mourão I. Disponível em: >(Alexandre da Silva Mourão I (1700–1772) • Pessoa • Árvore familiar • FamilySearch)<. Acesso em 25 de agosto de 2024.
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